domingo, 21 de novembro de 2010

"Cuidado com o cão"*

Minha idoneidade para isto parece haver se esvaido. Já não me satisfaço mais com o que produzo, e muitas vezes até, já não tenho mais apetite pela leitura do que publiquei. Tenho a sensação de que não estou mais escrevendo, apenas cadenciando meus dedos para ordenar as palavras na sequência em que estas me veem a mente.

Por toda a sorte, inevitavelmente vi que nisso há uma exposição inerente. Não proferimos o que pensamos, mas digitamos, e assim nos expomos ao outro, quem quer que este seja. Nota-se então a falta de prudência, de certo modo; afinal, não tenho motivos para expor minha subjetividade e submete-la à eventuais críticas que serão ironicamente ignoradas.

Não preciso, honestamente, me expor de tal modo. Não creio também, que a partir de uma leitura cuidadosa do que há disponível neste blog venha a ser feita uma analise ao meu respeito, provavelmente o fruto dela será mais uma imagem a meu respeito fadada à desconstrução.
Evidentemente, pela mera justificativa de que apesar de expor muito do que penso, não exponho tudo. Pode haver falta de prudência em me expor, mas nunca sua ausência em meu escrever; Há pensamentos meus que a ponta dos meus dedos simplesmente desconhecem.

De tempos em tempos, ainda que escrever aqui já não me agrade mais sempre termina sendo uma atividade que culmina na percepção de algum aspecto subjetivo; Por hora percebi que depois do que assumi como fim, e como preconizei, meus textos já não seriam mais tão bons. Não é fatalismo, mas reconheço uma limitação de minha parte em escrever tão bem como antes e vejo como a idoneidade deixou de ser algo passível de regresso. Outra percepção, foi com relação àquele que talvez tenha me regulado mais; o medo da fera - vejo em mim um alterego que devo manter sob controle, evitando alimentá-lo.

Ao final desse período de regresso, de muito proveito e não muitos agrados, reconheço uma alteração com relação ao mim: Estou em aproximando do equilíbrio com relação aos meus alteregos - não apresento mais picos -já não sou mais tão radiante, e nem tão sombrio, talvez uma penumbra, que impede a clareza e esconde alguns defeitos.

Por hora, vou brigar com minha fera sozinho, afinal o resultado dessa luta é exclusivamente meu.

Câmbio, desligo.



* No filme "Senhor das armas", Vitaly Orlov, irmão do protagonista Yuri Orlov, tem esta placa pendurada na cozinha em que trabalha justificando a necessidade dela a seu irmão como um lembrete da existência dessa fera que existe dentro ele e que ele tem de brigar consigo para não permitir que ela aflore.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Pouca paciência pro óbvio

Este futuro do pretérito é tão convidativo a abrir perspectivas para situações que não virão a ocorrer de modo algum, que faz com que nos percamos em conjecturas próprias, esquecendo até da linha de raciocinio que buscavamos antes de conjecturar.

Depois dessa, vou alimentar os peixes aqui do lado.

0° C

Impera a ironia e uma fala seca. O timbre da voz se alteraa para dizer o que se quer com o mínimo de palavras possível, sem escolhe-las previamente. Na medida do imediato, a fala é pensada e já não funciona mais como uma torneira para os pensamentos, de modo que estes continuam preservados e muito do que se pensa apesar de tocar o externo não foge a câmara craniana. As ações já são tão meticulosas como se estivesse no limiar de um abismo. Em tudo que consegue premeditar em frações de segundos, busca obter eficiência máxima. Nada do que ouve, o atinge; muitas vezes, sequer ouve. E pouco importa o que venha a ocorrer; tem plena consciência de que as consequências estão por vir e só vão poder ser contornadas ou resolvidas no devido tempo.

Um simples contato epidérmico já gela. Talvez seja essa frieza contagiante e que tanto se admira.
Intrigante é o fato de estranhamente adorar esse gelo. Seria melhor que pouco tivesse a ver com os signos que incorporamos durante nossa vida. Mas talvez até seja uma tentativa extrema de auto-controle emocional e que pouco tenha a ver com um personagem de outro autor.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Ensaio experimental

Já não tenho mais vontade, ou estímulo nenhum para prosseguir com minhas atividades diárias e minhas obrigações; ao invés disso, me sinto estimulado a fazer somente o que me vem a cabeça sem a preocupação de ter que me justificar perante os outros.

Outrora sendo tão pragmático, tão metódico e parecendo tão racional, agora me deparo com essa aparente contradição; de repente não quero encontrar mais tantas explicações satisfatórias ao meu rigoroso crivo. Diante disso, só percebo, e aceito que a falta de paciência tem andado de mãos dadas comigo nesses últimos dias. Esta falta de paciência que eu achava ser para com os outros, é somente parte do fruto da falta de paciência que tenho comigo mesmo.

O que me leva a tal me parece bastante simples: não consigo, honestamente, sentir prazer nessa inconstância; por vezes consigo correr e me afastar de mim, e quando me percebo distante, paro, observo, e vejo como cheguei longe. Esse nirvana, contudo, não é duradouro e assim como repentinamente me percebi distante, me sinto mais dentro de mim.

E como subterfúgio, tenho evadido situações que me provoquem a dar uma explicação. O que obviamente não me faz resolver meu problema e que talvez venha a funcionar como um placebo, se tal prática for continuada.

Sinceramente não estou pensando em tentar resolver essa situação e voltar àquele estado de pseudo estabilidade emocional já tão conhecido. Vou viver essa experimentação. As consequências que venham ao seu tempo...

Por hora, vou satisfazendo meus desejos, e mascarando os incômodos com doses extras de "impulsividade".

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Impudico

Me peguei sem reação, quando percebi o que escrevia aqui. Já havia percebido o fato de que o que está aqui escrito facilita bastante eventuais compreensões sobre comportamentos meus cujas explicações são "incaptáveis" a partir de observações singelas e banais coletadas ao decorrer dos dias.

Me senti de algum modo exposto, quando percebi que por aqui eu falava de uma face minha que eu não fazia questão de esconder, entretanto não a desejava escancarada. Não era bem medo o que eu tinha, mas sim preocupação em função da plena noção do potencial nocivo que estas reflexões escritas poderiam desempenhar na minha já difícil relação com a sociedade, ainda que observações banais dissessem o contrário

Revelo meus orgulhos, meus medos, minhas aflições e angústias sem bem me preocupar com a resposta daqueles que os lêem.

Aparentemente contraditório, claro, mas se por vezes me agarrei aos meus fiéis sentimentos, sensações e comportamentos que a sociedade tendia a subjugar como abomináveis, eu sigo respeitando a lealdade que eles tem por mim e que os impede de faltar comigo num momento de necessidade e por isso sigo escrevendo numa postura condizente; Quando é preciso escrever sem me preocupar com as consequências, ou reações dos leitores, o faço, aliás, sempre considero com exclusividade a reação dos leitores, a começar pelo primeiro e o único que me faz escrever tudo isso: EU.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Clorpromazina*

Sempre caminhei muito perto da loucura, e se percebo isso é porque de algum modo estou arraigado de modo tenaz às convenções sociais que delimitam o linear entre o são e o louco. Passei da hora de ter medo disso, e se consigo me perceber caminhando por cima desse muro, é porque de algum modo isso denota o velho auto controle que tenho buscado e que creio fugir de mim às vezes.E o velho auto controle não tem me faltado; Quando passo 3 dias tendo suicídio como um tema recorrente em meio aos meus pensamentos e me pego a relatar isto.

Desejei nascer de novo, só para mudar meu epitáfio. Um desejo que não caminha longe da ideação suicida; parecem até complementares, a priori. Em meio a ideação suicida, ridicularizada já diversas vezes por mim, e esse passageiro desejo de nascer de novo, abri a janela e deixei a cor invadir minha sala cinza.

Quanta cor numa promessa... Passei todo esse tempo recluso nesse cômodo cinza a pensar qual seria o meu remédio, o que resolveria minha situação e me faria superar mais esse quadro de apatia, e confesso ter ficado um tanto decepcionado em perceber que vivo de promessas, aliás, me alimento dos planos que vem por detrás delas.

Andava negligenciado planos, cria que eram somente fontes de frustrações, mas agora ganharam a face de um phárn**; capaz de encerrar a moléstia em si, ou passar a moléstia aos outros. Optei por encerrar a moléstia em mim, me acalentando com todas as perspectivas otimistas capazes de fazer com que eu me burle e evada dessa linha que me mantem próximo da loucura.

Me confortei de tal modo, que nem me julgo a partir dessa opção, simplesmente chuto essa bola para a frente. E me percebo tão bom na arte de me enganar e me domar que não sei se por todo esse tempo estive me fazendo de vítima algoz, pelo prazer desta ultima face, ou se estava querendo me dizer uma mensagem que não sabia como me dizer, mas que sabia ser capaz de entende.



* Antipsicótico sedativo utilizado no tratamento de pacientes esquizofrênicos. São utilizados predominantemente para pacientes psicóticos com inquietação exagerada, dentre outros sintomas. Esse composto causou surpresa quando percebeu-se que atuava como tranquilizante sem causar sedação, isto é, mantinha o paciente acordado, o que sugeriu sua utilização em pacientes psiquiátricos.

** Origem etimológica de Fármaco, que pode significar tanto remédio, como veneno.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Uma eterna angústia

Nunca fui o mesmo, e agora percebo que cada circunstância ambiental me é influenciável.

Me vejo indo, e voltando, mas com a sutil sensação de nunca ter passado pelo mesmo lugar.

Se conhecer deixa de ser o que nunca foi; atividade de um dia - não será em um dia, mas uma simples compilação do que já se pensou a respeito e daquilo que ainda vaga na memória.

Ao perceber isso, as coisas parecem fazer mais sentido. Mas não importa muito esse tipo de compreensão, Quando estou indo me vejo voltando, e quando estou voltando creio que estou indo.

O final, sob essa ótica, é meramente aquilo que queremos mas sabemos que nunca alcançaremos.

domingo, 31 de outubro de 2010

Um texto asterisco.

Estava claro que dormi pouco essa noite. Até um cego veria isso se sentisse o meu rosto. Estava cansado, mas não o suficiente para não me empolgar com o fato de ter dirigido na estrada pela primeira vez e ficar em estado de choque ao chegar onde deveria.

Como reagir a uma motivação, aparentemente sem motivo, de pessoas que vivem numa área onde o governo federal parece não chegar? Poderia ser típico daquele de uma visão política restrita, mas Sem buscar muito sentido nisso, me deixei levar em meio aquela manifestação política.

E cada vez que tentava me afastar da busca pelo sentido disso, sempre recebia um novo estimulo para mais uma vez retornar a esse questionamento. As pessoas criam que cada pessoa que vencesse a dificuldade de exercer seu direito cívico de votar por conta principalmente da distancia seria capaz de fazer a diferença.

Como pessoas que vivem numa área que parece externa a esfera máxima do poder representativo tem essa consciência? Esta, muitas vezes ignorada por aqueles que se percebem diretamente inseridos nos grandes centros, mais suscetíveis aos efeitos do governo.

Para nenhuma dessas perguntas eu tenho as respostas, aparentemente simples e que me tornam passível de avaliação; com margem de erro para mais, ou para menos.

Tentei até me afastar novamente desses pensamentos, mas fiquei chocado de tal modo que vim aqui, escrever um texto asterisco.

sábado, 30 de outubro de 2010

"E quando saio não vou muito longe, fico sempre por perto" *

Bebi de um copo de cólera, e terminei percebendo que posso correr de mim, mas nunca me afastarei de mim, de fato. Numa necessidade sempre voltaremos ao que consideramos nosso porto seguro.

O que é visto como problema, é que meu porto seguro é seguro só para mim, e quando estou de corpo fechado sou nocivo aos outros; me fecho em minhas certezas e é como se declarasse um estado se sítio para mim mesmo me desfazendo ao máximo de fatores externos a mim, tomando as decisões sempre buscando manter a minha ordem interna e não me deixar ser seduzido por uma situação extrema, que beira o descontrole e o desequilíbrio.

Sempre há uma idéia que é nociva até para mim, e que nessas horas é recorrente. Denoto auto controle, quando logo em seguida a esta idéia vem aquilo que caracterizei como um complemento à ela, que age como uma espécie de modulador comportamental e me impede de concretizá-la impulsivamente. É reconfortante até, perceber que meu auto controle numa situação dessa não se esvaiu, por mais que esteja próximo do descontrole e do desequilíbrio. Me reconforto ao perceber que afora a esse pensamento nocivo, há outros por detrás que me devolvem a cor daquilo que parecia ter empalidecido.

O pálido, então, volta a se corar e a cólera termina, por cadeia, ganhando cor. Toda essa cor me deixa confuso, quero pintar quadros mas sem saber quais cores utilizar. O vermelho, de repente, é bastante tentador por ser expressivo. O azul não cabe ao momento, o verde muito menos e o amarelo, nunca teve a ver comigo. Pinto um labirinto em vermelho; estou perdido em minha raiva, na minha irritação violenta, e a razão movida por ela me leva a crer que tomei uma decisão errada num momento passado.

Nesse momento, minha crença é de que perdi a oportunidade de ter meu corpo fechado e não estar como estou agora. Agora, problema não parece mais ser o fato de eu ser nocivo aos outros, mas sim simplesmente eu, por estar sempre vulnerável ao externo a mim e não ter conseguido desenvolver meu auto controle a ponto de me blindar e não precisar me vestir de pedras e me resguardar na minha própria fortaleza ou não ter conseguido incorporar essa armadura ao longo do tempo.

Em parte, por conta disso, me sinto descontente com o que apresento a mim mesmo numa situação como a de agora. Nenhuma das propostas que me apresento me agradam plenamente; Não sou tão seguro de mim a ponto de crer que posso me bastar, nem tão inocente para acreditar que precise que alguém e que esse seja capaz de me tirar dessa situação.

O máximo que consigo fazer é me descontrolar internamente sem exteriorizar isso, de modo que isso não se torne notório, e recorrer ao blog que apesar de tendo me recusado a voltar a escrever consigo perceber que este me serve como uma rota de fuga alternativa, sempre bastante interessante ao mim quando estou nesse "estado de sítio", revestido de pedras.



* Parte da música "Bossa nostra" de Nação Zumbi.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

De uma desconfiança à volta.

Esta poderia ser uma volta da qual eu me orgulhasse. Aquela em que eu resgataria a prática de uma habilidade, mas não; voltei reconhecendo o fim terapêutico do simples ato de escrever aqui que negligenciei nas produções anteriores e talvez tenha reconhecido somente na anterior a esta.

Me deixei abalar por uma desconfiança externa, de outrem, que sem perceber envenenou minha noite e me deu este dia cinza, sem muitas emoções de cores agradáveis aos olhos; somente essa vigorosa angústia cinza.

Veneno, como qualquer cápsula ou comprimido que tomamos para combater um sintoma de uma doença, foi ingerido e só algum tempo depois foi mostrar seu efeito, que eu tenho sentido até agora.
Efeito único?! Uma cadeia de efeitos; desde o não cumprimento de obrigações singulares até o agravamento de situações ruins e estabelecimento de perspectivas otimistas que beiravam o caos.

Desse veneno, pareço ter feito uso com água e potencializado seu efeito. De modo que meus devaneios receberam não só pernas mas também asas e me atacaram. Impotente, já não via mais algum jeito de extrair graça da minha desconfortável situação; ver o óbvio a um ângulo de 27° já não o tornava tão diferente, nada que merecesse destaque ou parecesse interessante de ser descrito - não dava pra pintar o óbvio com poesia.

E apenas comprovando o efeito terapêutico desses textos que eu escrevo, encerro-o aqui, por minha vontade de segurar o "backspace" ser maior do que a capacidade de atirar em letras com as pontas dos dedos.

sábado, 14 de agosto de 2010

Até o fim, então.

Numa breve análise, Qualquer um pode perceber que os textos que eu escrevia foram definhando quanto à temática e à qualidade.
Os últimos escritos já não envolviam nenhuma pretensão, se não a banal de escrever por escrever. Em meio a isso, meus textos já não diziam mais nada, já não eram tão convidativos a elogios, nem eram interessantes o suficientes para servirem de base para críticas.

Antes eu escrevia quando estava num estado que antecedia a angústia, o qual não consigo descrever por meio de palavras, e a partir do momento em que não havia mais angústia, ou tempo para me dedicar a qualidade que eu requeria a mim mesmo, o espaço de tempo entres os textos foi aumentando significativamente e em contrapartida a este aumento, houve a queda de qualidade, principalmente quando passei a acreditar piamente que era escravo desse blog.

Passei por um momento que não sei descrever, nem ao menos resumir do modo como fazia nos primeiros textos, e hoje estou em outro momento, contudo a impossibilidade de ser descrito ainda persiste.
Apenas sei que são distoantes, talvez até extremos.

Antes a palavra "talvez" não era evitada por simplesmente não ser uma palavra que me atraia. Hoje não evito, e não me preocupo com isso. Não me preocupo mais com muita coisa, aliás. Vou vivendo, sem desenhar meu futuro, sem desejar resolver meu mundo. Antes aquela hipótese de simplesmente deixar "o lance fluir" era absurdamente abominável; hoje, nem tanto, mas já não penso mais nisso.

Talvez um dia eu volte, crie outro blog, mas por hora, me entrego sabendo que as palavras já não me são mais tão sedutoras, e parecem ter mentido bem para mim durante todo esse tempo; já não acredito mais nelas - afinal, há muita coisa que tentei escrever e relatar quando era escravo desse blog e não consegui; agora não seria diferente.

Constato até, que funcionou bem como uma terapia. Ainda que nunca tivesse me ocorrido essa idéia. E finalmente, encerro levantando a bandeira branca em menção a rendição, ao fim do conflito e a vinda dos tempos de paz.


sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Sem pretensão alguma

Não sei por onde começar.

Mas lembro que estava lá na faculdade e saí pra comprar o suco gummy. quando voltei já tinha mais pão pra comer cachorro quente e sem pudor comi as salsichas no copo sobre olhares de reprovação, mas não me importei com aquilo realmente.
O gummy começou a se esvair, interagi aqui, e ali, com pessoas que faço questão de tê-las no meu dia a dia. Foi chegando gente, eu fui ficando bêbado, riram de mim, eu ri dos outros, sacaneei os outros, pertubei, sumi, apareci.

Vinha voltando pra casa e entrei no ônibus e vi uma senhora, que põs seu filho no colo para disponibilizar o lugar em que seu filho estava, mas eu insisti por algum tempo em dormir em pé.
Até que uma hora eu me sentei ao lado dela, e comprei uma Ice Kiss, e ofereci a criança, ela aceitou mas disse que não daria para seu filho agora. Enquanto a viagem seguia em minha cabeça ocorria um turbilhão de idéias misturadas com sentimentos. Aquela senhora com seu filho...ele dormindo em seu colo...ao mesmo tempo em que assistia e apreciava aquela cena, eu lembrava de quando acontecia comigo.

No meio disso pensei em saltar e ir na praia dar um mergulho; fazer uma coisa que nunca pensei em fazer, mas que achei que me instigava. e pensei "Se não hoje, quando?" e para minha surresa quando saltei do ônibus e olhei para a praia havia uns dois pescadores...me afastei deles, tirei o tênis, a blusa a bermuda e fui sem nenhum pudor.

Quando vinha subindo a escada pra voltar pra casa pensei "se não fosse hoje...mais nunca..."
e vim, com a mochila do brother nas costas, minha blusa carteira e celular dentro dela, e a preocupação de ligar para Danilão, que estava bêbado comigo lá na faculdade, mas não o suficiente para não se preocupar comigo.


quinta-feira, 22 de julho de 2010

Um esboço.

Por vezes, ao saltar do ônibus voltando da faculdade eu tive vontade de parar e tentar não pensar em nada, ou até refletir sobre mim mesmo.
Na verdade, eu buscava inspiração pra escrever sobre aquela situação sempre curiosa; toda vez que saltava do ônibus próximo das 18horas o céu não estava tão escuro, havia alguém caminhando sozinho na praia, as ondas quebrando no mar, um vento forte soprando do sudeste, algumas pessoas esperando o ônibus para seus destinos e nas três faixas a minha direita passava um agressivo volume de carros com velocidade não inferior a 50km/h.

O que há de curioso nisso? O que escrever sobre isso? Eu nunca tive esse luz, só vontade.
Mas não preciso nem me esforçar muito.

Ali, parado, tentando articular algumas ideias pra montar um texto apesar de estar perto de casa, eu olhei para um cacto e percebi que estava perdido; perdido entre o que havia à minha esquerda e a minha direita. As ondas quebrando ao seu tempo, o cacto realizando suas atividades vitais, eu, e vários carros indo para trás, ou para a frente.
Eu via três tempos distintos. Aquele em que as ondas me serviam de referencial, aquele em que os carros me serviam com a mesma função das ondas e o meu, que tentava se enquadrar em um deles.
Até hoje não sei em qual deles me enquadro e sigo acreditando que estou no meu tempo, apesar dos outros serem, por vezes, bastantes sedutores.


quarta-feira, 21 de julho de 2010

Correndo na direção contrária

Ironicamente eu disse nessa mesma noite que eu corria em direções opostas e que estava cada dia melhor nisso, pois conseguia ir mais longe. E eis que aqui estou nessa mesma noite sem correr para as extremidades, sem saber em que posição estou de verdade.

As palavras que eu reluto em ouvir, gradualmente, parecem se encaixar e explicar, de certo modo, algumas desprazerosas cenas do cotidiano.Me vejo correndo na direção contrária, e quanto mais eu corro, mais me aproximo daquilo que procuro me afastar.

Desconfortável é a sensação de impotência que se tem quando estamos agindo contra o nosso algoz.Parece não haver remédio para essa doença crônica, mas qualquer placebo é bem vindo e mais uma vez voltamos a nos alimentar de ilusões para nos afastarmos da realidade.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

O mundo continua o mesmo?

"Nunca mais verei o mundo do mesmo jeito". A reação imediata é ficar sem palavras. Depois, ao tentar explicar, surge a dúvida sobre qual palavra utilizar para descrever a reação; são muitas, mas nenhuma diz exatamente o que se quer dizer.

E é como escrever; você pode começar simplesmente, sem nenhuma explicação para tal e chegar num ponto em que você não consegue explicar porque faz aquilo, e o que mais se aproxima de uma possível explicação é o fato de que você escreve para se expor, para "exteriorizar" certas coisas, e assim suprir algumas de suas necessidades. Talvez seja uma busca, ou até um encontro, por uma fonte de conforto que temos dentro de nós.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Comportamento do ponto crítico

Simplesmente explode. Sem mais nem menos, e quando você se observa, percebe anomalias comportamentais.

Depois de algum tempo vem o já reincidente desejo de ter o controle sobre o tempo, de modo que dessa vez o anseio é pela oportunidade de voltar no tempo afim de evitar as consequencias dos erros recém cometidos. Depois do conformismo diante desta impossibilidade, vem a compreensão da situação, que ocorre não com a volta no tempo fisicamente, mas psicologicamente e inerente a ela a capacidade de observar os ocorridos como se fosse um alguém externo, que estivesse simplesmente na hora certa naquele lugar.

O tempo continua passando externamente ao seu psicológico e quando você volta da sua retroviagem não percebe somente que o tempo continuou a passar, mas também o peso das consequências dos erros recém cometidos. Relativizar isso é inevitável, mas passa a deixar de ser relativo na medida em que palavras de outrem que expressam mágoa te abalam, e não só elas, mas também como qualquer coisa simples que te digam trespasse a sua tão rigida e forte barreira ao mundo externo.

O fascínio disso está no simples fato de sermos fortes o suficiente para nós mesmos e nos deixarmos abalar de tal forma pelo que os outros nos dizem, principalmente em função de nossa força e rigidez não estar voltada para conseguirmos vencer as conveções sociais ou os desafios de uma vida guiada em meio a toda uma sociedade, mas a força que temos é apenas suficiente para nos satisfazer. Não somos fortes o suficiente para a sociedade - cedemos as pressões delas, desempenhadas pelos seus outros membros - mas apenas para nós mesmos, e diante de uma situação crítica perceber isso elucida até muita coisa.

domingo, 30 de maio de 2010

Qual a solução para os seus problemas?

Identificar. Resolver um problema sem identificá-lo beira a utopia.
Eu não sei qual seria a solução para os meus problemas, apenas evito que surjam outros.
Para tal, desisti de me conhecer, ou melhor, simplesmente optei por não fazer disso uma necessidade.Talvez minha mente já tenha conseguido, identificar maneiras de "se passar a perna", de modo que minha linha de raciocínio sobre pensar a vida esteja um pouco enferrujada, e resistindo a ser resgatada. Talvez tenha apenas dificultado o acesso a ela, e não me sentisse mais motivado a desenvolvê-la pelo simples desejo de não querer angariar mais possíveis frustrações.

Só dou valor ao que me interessa, e o que me interessa é aquilo que possui apenas fins práticos e observáveis, ainda que tangentes a mim.Por isso não me interesso muito em me conhecer, já aceitei que minha vida é um caminhar sem destino, simplesmente o que sei é que neste caminhar, ao olhar para os lados às vezes eu vejo coisas agradáveis, mas nem sempre é o que acontece.

Não me interesso em me conhecer, exclusivamente por acreditar que me conhecer não vai fazer de mim uma pessoa melhor, ou pior, e que ainda que fosse de qualquer um desses jeitos não me importaria muito. Independente do que for, estarei sempre suscetível a a ser alvo de críticas e insatisfações, seja por parte de mim ou dos outros.

Tentar se conhecer é apenas uma atividade desgastante; se você faz, faz, faz, e continua a fazer, sem chegar a uma conclusão muito animadora. É frustrante saber que por mais que você queira e se esforce para, você nunca vai saber quem você é e por isso, não conseguirá identificar uma raiz comum a todos os seus problemas.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Da força do pensamento e a velocidade do tempo

Você pode desejar que os eventos passem mais rapidamente com tenacidade mas apenas para suprir a sua necessidade de se iludir, ainda que esta não seja voluntária. Com ou sem o seu consentimento, você está suprindo a fome de mais uma ilusão da qual você necessita -a sensação de controle, seja do processo por inteiro ou somente de uma situação (parte do processo) - ou até para que esta ilusão alimente a sua sede pelo poder, poder este, que quando questionado sobre, você não tem condições de dizer que necessidade você tem dele, sem que para isso seja necessário recorrer a uma resposta vaga, baseada nos valores que você absorveu e ajudou a construir.

Concentrar toda a força que você acredita que seus pensamentos têm não é tão frutífero quanto você crê, de fato. Você se ilude ao acreditar que os eventos passaram mais rápido quando você desejou que eles realmente tivessem passado mais depressa; este placebo te viciou.

Fatalmente os eventos seguem na mesma velocidade, e o seu pensamento só tem força suficiente para te moldar e, deste modo, te fazer acreditar que a velocidade do tempo muda, sendo que na verdade o tempo continua a passar e você se frustrará toda vez que conseguir perceber que não conseguiu transformar a sua ilusão em realidade e por perceber que para concretizar esta ilusão seria necessário chegar a algum ponto, que você não sabe e não saberá qual é e nem onde fica, estando fadado a alimentar esta ilusão que não se encerra nem mesmo com a desistência e nem mesmo com a sua compreensão.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Do tempo

Depois do marco zero, o que veio antes passou a não existir. Atearam fogo às antigas escrituras, como se tudo o que importasse viesse adiante; fosse o presente. Pode haver esse desejo, mas fatalmente esse desejo não será realizado - jamais você conseguirá controlar o tempo, e muito menos definir o que é o presente. Você deveria saber que não há a alternativa de não ver a sombra do seu passado estando posicionado sob a luz do tempo. Você não consegue definir o presente, não vai conseguir, inevitavelmente você não sabe o que é o seu passado. Mas tem certeza de que há fantasmas te perseguindo e você vai viver nesta tormenta acreditando que se descobrir o porque da existência deles, você conseguirá se livrar. E não só isso, você também tentará destruí-los incansavelmente. Enquanto passional, você se atormentará incansavelmente, e o seu lado racional te oferecerá um atalho; se não optar por ele na primeira oportunidade, haverá outras, e nessa situação você terá oportunidades futuras, mas optando por ele na primeira oportunidade seu racionalismo o levará a crer que você não pode destruir o que de fato não existe. Afinal, são fantasmas, ilusões que você criou motivado por um sentimento de culpa e arrependimento suprimidos na ocasião e no tempo que se sucedeu mas que são inerentes a condição existencial do homem que vive em sociedade e absorve os valores que constrói e lhe são impostos ao mesmo tempo.

Sobre quem?

Não tenho forma. Não tenho volume. De mim, tudo é discutível. A coerência que eu tinha como ideal é um conceito aberto. E chego a conclusão de que não existe nada absoluto.Nenhum conceito é fechado. Baseei minha convicção em critérios que não existem. Acho que tudo é errado. Quero voltar no tempo pra fazer do jeito certo, mas vejo que não há jeito certo. Estarei sempre fadado a crer que nunca acertei. Porque sempre veio um conceito que teve força pra reformular tudo e me fazer ficar indignado com situação atual. É um ciclo. Você nunca vai produzir nada. Vai viver de incerteza e viver numa hipocrisia.Temos as respostas, o poder de mudança e mudamos pouco, quando sempre tivemos o poder de reconstruir tudo.

O que penso não é o que eu faço. Não estou errado. Não há quem esteja certo.É tudo nada. Nada do que você pensa é verdade. É incomodo não saber.