sexta-feira, 5 de junho de 2015

Sair de casa

Isso tudo porque já a algum tempo eu não estou em casa. Não me sinto em casa, mas também não sei o que é "casa". Eu sei que tenho a sensação de ter saído de "casa", e a cada dia que passa tenho a sensação de que eu não volto mais. Não sei se a perdi ou se estou me distanciando... 

Imerso nesta angustiante condição, como se estivesse a caminhar sobre os jardins da razão com uma viseira, percebo que as conveniências são altamente restritivas a percepção, e consequentemente, as hipóteses geradas tem sua porção de conveniência incutida.  

De todas elas, a mais conveniente tem sido aquela sobre casa voltar a ter sido, coincidentemente, um ambiente físico. A razão, através de uma representação cognitiva, mascarou outras aflições sob a forma de casa.  Havia muito escondido em casa, sem que ela fosse, necessariamente, um ambiente físico. Muito do que o ambiente físico, de fato, naturalmente representa, envolvia aspectos relacionados às angustias mascaradas, ou vigas e pilares estruturais desta sólida situação desconfortante.

 A casa física é uma representação ampla de conforto, que excede o sentido organoléptico.   A algum tempo estimulando o desconforto sensorial, inevitavelmente o experimento atingiria outra esfera; a porta ou a janela não são as únicas possibilidades para sair de casa. 

 Estar fora de casa é sentir-se descoberto, assumindo a própria condição de vulnerabilidade para si mesmo. Eu saí de casa no dia em que senti frio ao dormir de noite, e percebi que no momento de baixa guarda, o frio estava lá, manifestando-se em mim como desconforto em diferentes formas, como a dúvida e a apreensão. E mesmo que todas as noites tenham sido frias, o meu frio tem variado; a minha relação com este produto constante do binômio entre dúvida e apreensão.
Tenho dormido muito fora de casa, e voltar pra dentro dela não vai resolver o inverno do lado de fora.   
Eu não saí pela porta ou pela janela; isso remixou "sair de casa" numa simbologia diferente.