quarta-feira, 28 de maio de 2014

A dança da vida amorfa

   É quando a vida toma forma de gente ou se verbaliza, que a simples presença incomoda a ponto de doer. Dói, a ponto de desidratar as energias e dificultar a manutenção da estrutura sob equilíbrio estável.  Seria como equilibrar a ponta de um triangulo sobre uma bola; Há forma de fazê-lo, mas até que a possibilidade se apresente, o desafio continua vigorante. 

  E até o próprio manejo das ferramentas, até que se mostrem adequadas à solução do desafio, requer o emprego de habilidades, que possam já ter sido descobertas, ou permaneçam ocultas; num equilíbrio instável, encontrá-las e submetê-las ao perfeito encaixe é, certamente, a solução mais provável - embora, esteja claro o desafio de fazê-lo.

  Pormenorizar a situação, isolar variáveis, e assim concentrar-se nos fatores influentes. Raciocínio adequado, exceto para sentimentos e suas derivações, que se misturam ainda mais, quanto maior for o desequilíbrio. Não se ignora por completo tal método, já que mesmo sentimentos não se anulam, e se interferem independente da origem, ou intensidade. Não haveria sentido em evitar a participação de métodos efetivos, em razoável número de problemas - ignorando suas naturezas-,  num universo onde as energias fluem num movimento constante permissivo e interagem pela simples natureza incessante destes movimentos.

   E assim, notadamente, após algum tempo, foi notada a falta de frieza, para perceber que era apenas a vida amorfa, que re repente, havia adquirido forma e desejado injetar-lhe um estímulo à sua própria maneira. De imediato não foi compreendida, e não haveria dor, ou qualquer desconforto, se assim fosse. 

   Ao notar a fantasia que a vida vestiu, percebeu, na verdade, se tratar de um convite para um baile, onde dançar com fluidez era o que mantia viva a música do baile, e assim o baile vivo. Como num movimento constante permissivo.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Sem vitrine

   Comercializei meus sentimentos, mas não completei a ação. Sem que percebesse, fiz deles uma vitrine, e os expus, como artigos de consumo passíveis de aquisição.
   E então, ao o perceber, arremessei uma pedra em cada um deles. Agora estou a olhar para os cacos de sentimento que restaram, pensando como era vazio tudo aquilo, ou melhor, como eram frágeis aqueles vidros. Ou até mesmo, se de fato eram composto desse liquido de alta viscosidade, ou de qualquer outro material quebrável, esmigalhável, esfarelável, ou, simplesmente não resistente o suficiente para proteger o que agora ficara descoberto.
   Não sei se o que me incomoda agora é a falta de vitrines, ou a falta de proteção pela sua ausência. Por quem passa, as faltas se assemelham, mas podem ter suas diferenças facilmente percebidas pelo dono da loja.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Desabitado

   Já não tenho mais casa, e não tê-la é um desconforto, cuja angústia te acaricia todas as manhãs, ao primeiro sorriso do sol que te alcança. O gozo desse afago agastado pode ser traduzido no desejo de voltar; voltar para onde as idéias podem fluir, sem ter que desviar de barreiras, tiros ou qualquer outra ameaça que impeça seu fluxo livre. 
   E a dúvida é curta, ao cogitar a possibilidade de que parte de si já tenha realizado este desejo e tenha abandonado a outra parte que foi incapaz de carregar consigo. E assim se manifesta o sentimento de integridade, ao perceber que parte pode ter sido abandonada.
E no espaço vago, o próprio vago se contorce, e até que ali floreçam flores que sorriam de volta para o sol, já deve, com corte, ser o final da primavera.


segunda-feira, 17 de março de 2014

Enerfagia

   Pleno estado de êxtase provedor de desejos viscerais, que em sua própria forma não se conteem, e apresentam necessidade de fagocitar a estrutura que os sustenta. Não há certeza se é o instinto coletivo dos desejos, ou a inércia coletiva do desejo.
   Diante de tanta energia, que ataca por todo o lado, com diferente intensidade e origem, aproveita-lá se mostra uma necessidade para a super saturação do bem estar; talvez este seja os desejos em suas última forma - Levar a um bem estar inexplicável, tal qual a sinestesia seja capaz de aproximá-lo de uma transcrição.
   No engolir ou fagocitar toda essa energia, que emana dessas pessoas, é que está a característica mais visceral - mais até que o próprio de matar a fome-; A própria energia que emana, não satisfaz a si, por ser gerada e emitida, num ciclo de 2 tempos. A origem do desejo se manifesta como a necessidade de incluir sequer um tempo a mais neste viciado ciclo; é preciso incorpora-lá, processá-la e emiti-lá sob forma singular própria.
   O êxtase está entre o reconhecimento e a incorporação, que não necessariamente se realizará, mas cujo a plenitude já dopa de maneira estimulante à consecução da transcrição do desejo.