sábado, 2 de janeiro de 2016

Até aqui.

Perde-se tempo e demanda-se energia com diversas reações descabidas. Estes são apenas consequencias de sintomas. Incômodos são apenas sintomas, e embora a lógica não seja nova, é a primeira vez agora, que a admite sob um ponto de vista mais abrangente. 

Sintomas não são, necessariamente, causas. A partir disso surge a necessidade de incidir sobre as causas a fim de minimizar os efeitos primários e subsequentes. Caracterizar os sintomas é relevante, mas perceber que a causa reside nos questionamentos envolve risco significativo. Perceber que a causa de uma inquietação de ordem psicológica é tão basal, pode gerar perda de rumo. Há quem precise de algo concreto e vez que alicerces do próprio equilíbrio psicológico não podem ser externalizados e ganhar forma, há quem não vá tão fundo, pelo medo de perder-se e não mais se encontrar. Há por outro lado, quem consiga nadar no mar das incertezas, e da flexibilidade, permitindo-se se aprofundar em seus questionamentos.  

Por limitações próprias e também por desejo, idéias, planos e expectativas rígidas já não refletem a ideia de equilibrio. Não se opta por não questionar, nem por nadar nesse mar de incertezas. Embora sejam feitos planos e perspectivas aparentemente rígidas e sólidas se mostrem como fruto, tem-se nelas mais o sentido apontado pela agulha de uma bussola, do que como um pilar. 

Em meio aos frutos do cruzamento das diversas situações cotidianas e a responsividade individual, percebe-se que há vulnerabilidade em tomada de decisões e não há demérito em ter de alterá-las. É nesse ponto em que se percebe que flexibilidade mais tem a ver com equilíbrio e adaptabilidade do que com rigidez. 

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Sair de casa

Isso tudo porque já a algum tempo eu não estou em casa. Não me sinto em casa, mas também não sei o que é "casa". Eu sei que tenho a sensação de ter saído de "casa", e a cada dia que passa tenho a sensação de que eu não volto mais. Não sei se a perdi ou se estou me distanciando... 

Imerso nesta angustiante condição, como se estivesse a caminhar sobre os jardins da razão com uma viseira, percebo que as conveniências são altamente restritivas a percepção, e consequentemente, as hipóteses geradas tem sua porção de conveniência incutida.  

De todas elas, a mais conveniente tem sido aquela sobre casa voltar a ter sido, coincidentemente, um ambiente físico. A razão, através de uma representação cognitiva, mascarou outras aflições sob a forma de casa.  Havia muito escondido em casa, sem que ela fosse, necessariamente, um ambiente físico. Muito do que o ambiente físico, de fato, naturalmente representa, envolvia aspectos relacionados às angustias mascaradas, ou vigas e pilares estruturais desta sólida situação desconfortante.

 A casa física é uma representação ampla de conforto, que excede o sentido organoléptico.   A algum tempo estimulando o desconforto sensorial, inevitavelmente o experimento atingiria outra esfera; a porta ou a janela não são as únicas possibilidades para sair de casa. 

 Estar fora de casa é sentir-se descoberto, assumindo a própria condição de vulnerabilidade para si mesmo. Eu saí de casa no dia em que senti frio ao dormir de noite, e percebi que no momento de baixa guarda, o frio estava lá, manifestando-se em mim como desconforto em diferentes formas, como a dúvida e a apreensão. E mesmo que todas as noites tenham sido frias, o meu frio tem variado; a minha relação com este produto constante do binômio entre dúvida e apreensão.
Tenho dormido muito fora de casa, e voltar pra dentro dela não vai resolver o inverno do lado de fora.   
Eu não saí pela porta ou pela janela; isso remixou "sair de casa" numa simbologia diferente.

domingo, 31 de maio de 2015

Pode ser saudade

A princípio não é sobre saudade, mas não se descarta que não seja. Permeando entre os inúmeros bloqueios e fluindo, ainda que forçosamente, entre eles, uma visão mais nítida e ampla sobre as causas e seus catalíticos desdobramentos.

Talvez se admita como saudade, mas saudade não de um evento, ou elementos físicos, e sim de um conjunto, de uma conjuntura. Caracterizar a conjuntura ou seus elementos componentes permitiria uma abordagem analítica, e até cartesiana, como de praxe. Se a caracterização é excessivamente complexa, o erro pode estar sobre a escolha do método - e assim se percebe que não seria uma questão de simples causas e consequências, mas sim uma questão metabólica. Ao invés de apenas uma reação isolada, todo o sistema reage, de maneira simultânea, e a tal abordagem analítica seria até possível, embora excessivamente dispendiosa, obviamente. 

Isso tudo porque já a algum tempo eu não estou em casa. Não me sinto em casa, mas também não sei o que é "casa". Eu sei que tenho a sensação de ter saído de casa, e a cada dia que passa tenho a sensação de que eu não volto mais. Não sei se a perdi ou se estou me distanciando...

[Continuo talvez]

quarta-feira, 28 de maio de 2014

A dança da vida amorfa

   É quando a vida toma forma de gente ou se verbaliza, que a simples presença incomoda a ponto de doer. Dói, a ponto de desidratar as energias e dificultar a manutenção da estrutura sob equilíbrio estável.  Seria como equilibrar a ponta de um triangulo sobre uma bola; Há forma de fazê-lo, mas até que a possibilidade se apresente, o desafio continua vigorante. 

  E até o próprio manejo das ferramentas, até que se mostrem adequadas à solução do desafio, requer o emprego de habilidades, que possam já ter sido descobertas, ou permaneçam ocultas; num equilíbrio instável, encontrá-las e submetê-las ao perfeito encaixe é, certamente, a solução mais provável - embora, esteja claro o desafio de fazê-lo.

  Pormenorizar a situação, isolar variáveis, e assim concentrar-se nos fatores influentes. Raciocínio adequado, exceto para sentimentos e suas derivações, que se misturam ainda mais, quanto maior for o desequilíbrio. Não se ignora por completo tal método, já que mesmo sentimentos não se anulam, e se interferem independente da origem, ou intensidade. Não haveria sentido em evitar a participação de métodos efetivos, em razoável número de problemas - ignorando suas naturezas-,  num universo onde as energias fluem num movimento constante permissivo e interagem pela simples natureza incessante destes movimentos.

   E assim, notadamente, após algum tempo, foi notada a falta de frieza, para perceber que era apenas a vida amorfa, que re repente, havia adquirido forma e desejado injetar-lhe um estímulo à sua própria maneira. De imediato não foi compreendida, e não haveria dor, ou qualquer desconforto, se assim fosse. 

   Ao notar a fantasia que a vida vestiu, percebeu, na verdade, se tratar de um convite para um baile, onde dançar com fluidez era o que mantia viva a música do baile, e assim o baile vivo. Como num movimento constante permissivo.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Sem vitrine

   Comercializei meus sentimentos, mas não completei a ação. Sem que percebesse, fiz deles uma vitrine, e os expus, como artigos de consumo passíveis de aquisição.
   E então, ao o perceber, arremessei uma pedra em cada um deles. Agora estou a olhar para os cacos de sentimento que restaram, pensando como era vazio tudo aquilo, ou melhor, como eram frágeis aqueles vidros. Ou até mesmo, se de fato eram composto desse liquido de alta viscosidade, ou de qualquer outro material quebrável, esmigalhável, esfarelável, ou, simplesmente não resistente o suficiente para proteger o que agora ficara descoberto.
   Não sei se o que me incomoda agora é a falta de vitrines, ou a falta de proteção pela sua ausência. Por quem passa, as faltas se assemelham, mas podem ter suas diferenças facilmente percebidas pelo dono da loja.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Desabitado

   Já não tenho mais casa, e não tê-la é um desconforto, cuja angústia te acaricia todas as manhãs, ao primeiro sorriso do sol que te alcança. O gozo desse afago agastado pode ser traduzido no desejo de voltar; voltar para onde as idéias podem fluir, sem ter que desviar de barreiras, tiros ou qualquer outra ameaça que impeça seu fluxo livre. 
   E a dúvida é curta, ao cogitar a possibilidade de que parte de si já tenha realizado este desejo e tenha abandonado a outra parte que foi incapaz de carregar consigo. E assim se manifesta o sentimento de integridade, ao perceber que parte pode ter sido abandonada.
E no espaço vago, o próprio vago se contorce, e até que ali floreçam flores que sorriam de volta para o sol, já deve, com corte, ser o final da primavera.


segunda-feira, 17 de março de 2014

Enerfagia

   Pleno estado de êxtase provedor de desejos viscerais, que em sua própria forma não se conteem, e apresentam necessidade de fagocitar a estrutura que os sustenta. Não há certeza se é o instinto coletivo dos desejos, ou a inércia coletiva do desejo.
   Diante de tanta energia, que ataca por todo o lado, com diferente intensidade e origem, aproveita-lá se mostra uma necessidade para a super saturação do bem estar; talvez este seja os desejos em suas última forma - Levar a um bem estar inexplicável, tal qual a sinestesia seja capaz de aproximá-lo de uma transcrição.
   No engolir ou fagocitar toda essa energia, que emana dessas pessoas, é que está a característica mais visceral - mais até que o próprio de matar a fome-; A própria energia que emana, não satisfaz a si, por ser gerada e emitida, num ciclo de 2 tempos. A origem do desejo se manifesta como a necessidade de incluir sequer um tempo a mais neste viciado ciclo; é preciso incorpora-lá, processá-la e emiti-lá sob forma singular própria.
   O êxtase está entre o reconhecimento e a incorporação, que não necessariamente se realizará, mas cujo a plenitude já dopa de maneira estimulante à consecução da transcrição do desejo.