quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Desgosto

O modo como eu tenho escrito tem me fugido ao gosto. Não tem me agradado, mas nunca quis ser bom com as palavras. Na verdade, talvez até tenha querido, de fato. Mas muito mais me interessa ser bom comigo mesmo.

Não me interesso por conseguir manejar as palavras e estruturas sintáticas de modo às conferir harmonia. Tenho me interessado, talvez pelo mais difícil; conseguir manejar meus pensamentos e cadência-los, de modo que consiga vê-los suficientemente bem, para emiti-los de modo harmonioso o bastante para que a harmonia das palavras seja trazida consigo como bônus, e não que este seja ainda mais um ônus com que eu tenha que me preocupar.


Meus rabiscos com 9B

O futuro já se rabisca com um grafite 9B*. Mesmo não sendo definitivo, e não tendo certeza de nada, já está escrito e e já é difícil de ser apagado. As tentativas não parecem em vão, aos poucos retiram um pouco daquela marca que ali resiste.

É gostoso riscar com um 9B, mas sua maciez parece até não condizer com a dor que, a marca deixada por ele, gera. Todas e tantas setas já, hoje, incomodam e umedecem os rabiscos. O papel perde a resistencia, e imprimir sobre a folha já requer mais cuidado.

Que seque o papel, pois a arte final não terminará com um 9B, mas possivelmente com um 9H**. O que só torna as coisas mais duras, obviamente, mais sutis, certamente, e cobrando um esmero ainda maior.


* Tipo de lápis de extrema maciez que ao riscar, deixa grande quantidade de grafite no papel.
** Tipo de lápis de extrema rigidez que ao riscar, deixa sulcos no papel.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A Bela e a Fera

Mas ora, a Bela tão diferente da Fera.

A Fera, que era atormentada, quando não por aquele ao seu redor, por si própria e que pouco fazia questão do mundo, já que não conseguia encontrar beleza nele. À Fera, interessavam pessoas, e não conversas - conversas dependiam de dois lados - mas algumas poucas pessoas tinham conversa interessante o suficiente a ponto de seduzirem a Fera, e estes, somente estes era quem ele tinha por perto e que faziam com que ele se mantivesse ali, evitando o sonoro chamado, gostoso de ouvir, que vinha do lado de lá.

A Bela, via a beleza no mundo, até entendia a Fera, mesmo sem concordar muito com ela. A Bela era serena, cativante, a ponto de fazer com que a Fera por vezes fosse entendida como tola. A Bela seduzia a Fera com seu simples olhar sobre o mundo, o modo como admirava aquela beleza que a Fera não conseguia encontrar e sem a tormenta que parecia perseguir a Fera.

Estranho seria se um fosse capaz de persuadir o outro, e fazendo com que pensassem em uníssono.
Estranho seria a Fera conseguir ver a Beleza no mundo.
Estranho seria a Fera deixar de ouvir o grito que vem do lado de lá.

Estranho, mais ainda, seria a Fera achar que aquilo que há em seu mundo é, tudo, Bela.

domingo, 7 de agosto de 2011

Da Saudade

Entendo a daqueles que tinham por hábito se comunicar comigo quase que diariamente. Não entendo, porém, a daqueles que passaram uma semana, em sua plenitude, em minha companhia, e que após alguns poucos dias dizem estar sofrendo do mesmo mal.

Por ela, uns se entregam ao desejo e outros se abraçam mais forte, acreditando que desse modo encerrarão a que tem por outrem.

O mundo todo a sente e aqui, por sorte talvez, há meio de nomeá-la, mas há tantos outros que somente a sentem, não dispondo de um nome para lhe dar . Me valho disso para dessa vez não tentar entender, explicar ou dissecar.

Mas confesso que tem me confundido muito essas diferentes reações pra esse mal sem tradução.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Black XS - Nessa noite

Meu perfume me sufoca. Me agrada mas não por inteiro; não é bem este o cheiro que queria sentir.

Provavelmente resistirá a essa noite, e ao acordar ainda o sinta mais uma vez, lembrando de como é bom este cheiro. Por algum tempo senti outro perfume, que ficou em mim e que depois a memória não se fez suficiente para resgatá-lo.

Adoraria crer que sinto todos esses cheiros apenas com o olfato, mas, de repente, meus olhos parecem ter desenvolvido receptores olfativos, bem como alguma outra parte interna do corpo bem próxima ao âmago, e até nas pontas dos dedos também.

Ao acordar, perceber o perfume primeiramente com os olhos; antes de dormir, olfatar com os toques dos dedos e; em todo o intervalo, a pensar como é bom este cheiro, que não é do meu perfume, e que por mim só é sentido pelas vias naturais não sinestésicas, não me satisfazendo por inteiro.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Entre o caminho e a corda.

Correndo em sentidos opostos simultaneamente e, naturalmente, não apresentando ganho algum. Uma direção leva a raiva animalesca, em parte inconsciente; já a outra, leva a sublime razão. Incomoda perceber que há vontade de chegar nas duas extremidades, mesmo antevendo os ônus de cada caminho. Incomoda também a dúvida sobre qual destino alcançar primeiro, e mesmo se estes pontos se encontram em sentidos opostos. Sem não ignorar a dúvida do por que de correr para um desses destinos.

A retroalimentação negativa dessa raiva só acontece quando ela faz com que seja derramada tinta sobre aquela imagem, de modo que a disfigure e aos poucos faça com que se perca o que havia de belo naquele quadro, pintando com tanto esmero. É estranho como agrada a possibilidade de se ter uma nova tela em branco, por cima daquela colorida; ainda que o branco não represente nada, e não suscite à reconstituição ou recriação de uma nova obra. Admira-se esse branco como um cachorro que senta a frente de um forno e assiste os espetos de frango girarem, sendo o suficiente para agradá-lo, diferenciando-se dele apenas pelo fato da arte não ser realizada na primeira oportunidade.

A razão sim, agrava o quadro. Manipula os próprios resultados, interfere no controle da raiva e mistura tudo, como se quisesse servir uma vitamina. Faz lembrar da beleza do quadro insistentemente, e de como é abominável conceder permissão para que esta se estrague e se perca. Tenta controlar ao máximo esses viscerais desejos enforcando-os; toda vez que eles crescem e seu pescoço se alarga vem a dor que os fazem retroceder e os impede de continuar crescendo.

Dói tanto deixar a raiva crescer e tentar se regular sozinha por mecanismos próprios quanto, deixar a razão tomar as rédeas e controlar esse animal indócil. E é essa dor, que me impede de cadenciar minhas idéias de modo organizado.

domingo, 29 de maio de 2011

Fazendo do tempo um catalisador sinestésico.

Um cheiro no som, um sabor numa cor...ou simplesmente uma sensação indescritível de prazer por sensações que remetem, sem muita justificativa, à experiências sinestésicas é o que de fato me interessa.

Enquanto cientistas mostram ao mundo que um perfil de personalidade ávido por experimentações aprecia experiências que estimulem a cognição, eu fico incrivelmente satisfeito ao ouvir que as músicas que eu realmente tenho prazer em ouvir são bastante sinestésicas.
Em contrapartida, tudo aquilo que é trivial e óbvio pouco me instiga, problemas interpessoais me parecem todos monossensoriais. Tem um gosto amargo, a cor cinza, doem, cheiram desagradável e incomodam os ouvidos.

Tanta sensibilidade única e restrita, me incomoda. Diante disso, consigo reconhecer a necessidade de solucionar os problemas dessa natureza, mas minha dificuldade parece ser única e restrita também; Como incitar meu apreço pelo que pouco me interessa?

"Enquanto o tempo acelera e pede pressa, eu me recuso faço hora, vou na valsa..."*
Talvez com o tempo eu descubra isso, ou talvez com o passar do tempo, eu torne o sabor um amargo doloroso; a cor numa cor cinza dolorosa, o cheiro num desagradavelmente doloroso, os sons em ondas que me doam aos tímpanos; e a própria dor, dolorosa o suficiente para tornar tudo sinestésico outra vez a ponto de me instigar novamente para que eu possa resolver estes problemas. Mas isso, é obra do tempo.



*Trecho da música "Paciência" de "Lenine".