quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Ensaio experimental

Já não tenho mais vontade, ou estímulo nenhum para prosseguir com minhas atividades diárias e minhas obrigações; ao invés disso, me sinto estimulado a fazer somente o que me vem a cabeça sem a preocupação de ter que me justificar perante os outros.

Outrora sendo tão pragmático, tão metódico e parecendo tão racional, agora me deparo com essa aparente contradição; de repente não quero encontrar mais tantas explicações satisfatórias ao meu rigoroso crivo. Diante disso, só percebo, e aceito que a falta de paciência tem andado de mãos dadas comigo nesses últimos dias. Esta falta de paciência que eu achava ser para com os outros, é somente parte do fruto da falta de paciência que tenho comigo mesmo.

O que me leva a tal me parece bastante simples: não consigo, honestamente, sentir prazer nessa inconstância; por vezes consigo correr e me afastar de mim, e quando me percebo distante, paro, observo, e vejo como cheguei longe. Esse nirvana, contudo, não é duradouro e assim como repentinamente me percebi distante, me sinto mais dentro de mim.

E como subterfúgio, tenho evadido situações que me provoquem a dar uma explicação. O que obviamente não me faz resolver meu problema e que talvez venha a funcionar como um placebo, se tal prática for continuada.

Sinceramente não estou pensando em tentar resolver essa situação e voltar àquele estado de pseudo estabilidade emocional já tão conhecido. Vou viver essa experimentação. As consequências que venham ao seu tempo...

Por hora, vou satisfazendo meus desejos, e mascarando os incômodos com doses extras de "impulsividade".

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Impudico

Me peguei sem reação, quando percebi o que escrevia aqui. Já havia percebido o fato de que o que está aqui escrito facilita bastante eventuais compreensões sobre comportamentos meus cujas explicações são "incaptáveis" a partir de observações singelas e banais coletadas ao decorrer dos dias.

Me senti de algum modo exposto, quando percebi que por aqui eu falava de uma face minha que eu não fazia questão de esconder, entretanto não a desejava escancarada. Não era bem medo o que eu tinha, mas sim preocupação em função da plena noção do potencial nocivo que estas reflexões escritas poderiam desempenhar na minha já difícil relação com a sociedade, ainda que observações banais dissessem o contrário

Revelo meus orgulhos, meus medos, minhas aflições e angústias sem bem me preocupar com a resposta daqueles que os lêem.

Aparentemente contraditório, claro, mas se por vezes me agarrei aos meus fiéis sentimentos, sensações e comportamentos que a sociedade tendia a subjugar como abomináveis, eu sigo respeitando a lealdade que eles tem por mim e que os impede de faltar comigo num momento de necessidade e por isso sigo escrevendo numa postura condizente; Quando é preciso escrever sem me preocupar com as consequências, ou reações dos leitores, o faço, aliás, sempre considero com exclusividade a reação dos leitores, a começar pelo primeiro e o único que me faz escrever tudo isso: EU.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Clorpromazina*

Sempre caminhei muito perto da loucura, e se percebo isso é porque de algum modo estou arraigado de modo tenaz às convenções sociais que delimitam o linear entre o são e o louco. Passei da hora de ter medo disso, e se consigo me perceber caminhando por cima desse muro, é porque de algum modo isso denota o velho auto controle que tenho buscado e que creio fugir de mim às vezes.E o velho auto controle não tem me faltado; Quando passo 3 dias tendo suicídio como um tema recorrente em meio aos meus pensamentos e me pego a relatar isto.

Desejei nascer de novo, só para mudar meu epitáfio. Um desejo que não caminha longe da ideação suicida; parecem até complementares, a priori. Em meio a ideação suicida, ridicularizada já diversas vezes por mim, e esse passageiro desejo de nascer de novo, abri a janela e deixei a cor invadir minha sala cinza.

Quanta cor numa promessa... Passei todo esse tempo recluso nesse cômodo cinza a pensar qual seria o meu remédio, o que resolveria minha situação e me faria superar mais esse quadro de apatia, e confesso ter ficado um tanto decepcionado em perceber que vivo de promessas, aliás, me alimento dos planos que vem por detrás delas.

Andava negligenciado planos, cria que eram somente fontes de frustrações, mas agora ganharam a face de um phárn**; capaz de encerrar a moléstia em si, ou passar a moléstia aos outros. Optei por encerrar a moléstia em mim, me acalentando com todas as perspectivas otimistas capazes de fazer com que eu me burle e evada dessa linha que me mantem próximo da loucura.

Me confortei de tal modo, que nem me julgo a partir dessa opção, simplesmente chuto essa bola para a frente. E me percebo tão bom na arte de me enganar e me domar que não sei se por todo esse tempo estive me fazendo de vítima algoz, pelo prazer desta ultima face, ou se estava querendo me dizer uma mensagem que não sabia como me dizer, mas que sabia ser capaz de entende.



* Antipsicótico sedativo utilizado no tratamento de pacientes esquizofrênicos. São utilizados predominantemente para pacientes psicóticos com inquietação exagerada, dentre outros sintomas. Esse composto causou surpresa quando percebeu-se que atuava como tranquilizante sem causar sedação, isto é, mantinha o paciente acordado, o que sugeriu sua utilização em pacientes psiquiátricos.

** Origem etimológica de Fármaco, que pode significar tanto remédio, como veneno.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Uma eterna angústia

Nunca fui o mesmo, e agora percebo que cada circunstância ambiental me é influenciável.

Me vejo indo, e voltando, mas com a sutil sensação de nunca ter passado pelo mesmo lugar.

Se conhecer deixa de ser o que nunca foi; atividade de um dia - não será em um dia, mas uma simples compilação do que já se pensou a respeito e daquilo que ainda vaga na memória.

Ao perceber isso, as coisas parecem fazer mais sentido. Mas não importa muito esse tipo de compreensão, Quando estou indo me vejo voltando, e quando estou voltando creio que estou indo.

O final, sob essa ótica, é meramente aquilo que queremos mas sabemos que nunca alcançaremos.

domingo, 31 de outubro de 2010

Um texto asterisco.

Estava claro que dormi pouco essa noite. Até um cego veria isso se sentisse o meu rosto. Estava cansado, mas não o suficiente para não me empolgar com o fato de ter dirigido na estrada pela primeira vez e ficar em estado de choque ao chegar onde deveria.

Como reagir a uma motivação, aparentemente sem motivo, de pessoas que vivem numa área onde o governo federal parece não chegar? Poderia ser típico daquele de uma visão política restrita, mas Sem buscar muito sentido nisso, me deixei levar em meio aquela manifestação política.

E cada vez que tentava me afastar da busca pelo sentido disso, sempre recebia um novo estimulo para mais uma vez retornar a esse questionamento. As pessoas criam que cada pessoa que vencesse a dificuldade de exercer seu direito cívico de votar por conta principalmente da distancia seria capaz de fazer a diferença.

Como pessoas que vivem numa área que parece externa a esfera máxima do poder representativo tem essa consciência? Esta, muitas vezes ignorada por aqueles que se percebem diretamente inseridos nos grandes centros, mais suscetíveis aos efeitos do governo.

Para nenhuma dessas perguntas eu tenho as respostas, aparentemente simples e que me tornam passível de avaliação; com margem de erro para mais, ou para menos.

Tentei até me afastar novamente desses pensamentos, mas fiquei chocado de tal modo que vim aqui, escrever um texto asterisco.

sábado, 30 de outubro de 2010

"E quando saio não vou muito longe, fico sempre por perto" *

Bebi de um copo de cólera, e terminei percebendo que posso correr de mim, mas nunca me afastarei de mim, de fato. Numa necessidade sempre voltaremos ao que consideramos nosso porto seguro.

O que é visto como problema, é que meu porto seguro é seguro só para mim, e quando estou de corpo fechado sou nocivo aos outros; me fecho em minhas certezas e é como se declarasse um estado se sítio para mim mesmo me desfazendo ao máximo de fatores externos a mim, tomando as decisões sempre buscando manter a minha ordem interna e não me deixar ser seduzido por uma situação extrema, que beira o descontrole e o desequilíbrio.

Sempre há uma idéia que é nociva até para mim, e que nessas horas é recorrente. Denoto auto controle, quando logo em seguida a esta idéia vem aquilo que caracterizei como um complemento à ela, que age como uma espécie de modulador comportamental e me impede de concretizá-la impulsivamente. É reconfortante até, perceber que meu auto controle numa situação dessa não se esvaiu, por mais que esteja próximo do descontrole e do desequilíbrio. Me reconforto ao perceber que afora a esse pensamento nocivo, há outros por detrás que me devolvem a cor daquilo que parecia ter empalidecido.

O pálido, então, volta a se corar e a cólera termina, por cadeia, ganhando cor. Toda essa cor me deixa confuso, quero pintar quadros mas sem saber quais cores utilizar. O vermelho, de repente, é bastante tentador por ser expressivo. O azul não cabe ao momento, o verde muito menos e o amarelo, nunca teve a ver comigo. Pinto um labirinto em vermelho; estou perdido em minha raiva, na minha irritação violenta, e a razão movida por ela me leva a crer que tomei uma decisão errada num momento passado.

Nesse momento, minha crença é de que perdi a oportunidade de ter meu corpo fechado e não estar como estou agora. Agora, problema não parece mais ser o fato de eu ser nocivo aos outros, mas sim simplesmente eu, por estar sempre vulnerável ao externo a mim e não ter conseguido desenvolver meu auto controle a ponto de me blindar e não precisar me vestir de pedras e me resguardar na minha própria fortaleza ou não ter conseguido incorporar essa armadura ao longo do tempo.

Em parte, por conta disso, me sinto descontente com o que apresento a mim mesmo numa situação como a de agora. Nenhuma das propostas que me apresento me agradam plenamente; Não sou tão seguro de mim a ponto de crer que posso me bastar, nem tão inocente para acreditar que precise que alguém e que esse seja capaz de me tirar dessa situação.

O máximo que consigo fazer é me descontrolar internamente sem exteriorizar isso, de modo que isso não se torne notório, e recorrer ao blog que apesar de tendo me recusado a voltar a escrever consigo perceber que este me serve como uma rota de fuga alternativa, sempre bastante interessante ao mim quando estou nesse "estado de sítio", revestido de pedras.



* Parte da música "Bossa nostra" de Nação Zumbi.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

De uma desconfiança à volta.

Esta poderia ser uma volta da qual eu me orgulhasse. Aquela em que eu resgataria a prática de uma habilidade, mas não; voltei reconhecendo o fim terapêutico do simples ato de escrever aqui que negligenciei nas produções anteriores e talvez tenha reconhecido somente na anterior a esta.

Me deixei abalar por uma desconfiança externa, de outrem, que sem perceber envenenou minha noite e me deu este dia cinza, sem muitas emoções de cores agradáveis aos olhos; somente essa vigorosa angústia cinza.

Veneno, como qualquer cápsula ou comprimido que tomamos para combater um sintoma de uma doença, foi ingerido e só algum tempo depois foi mostrar seu efeito, que eu tenho sentido até agora.
Efeito único?! Uma cadeia de efeitos; desde o não cumprimento de obrigações singulares até o agravamento de situações ruins e estabelecimento de perspectivas otimistas que beiravam o caos.

Desse veneno, pareço ter feito uso com água e potencializado seu efeito. De modo que meus devaneios receberam não só pernas mas também asas e me atacaram. Impotente, já não via mais algum jeito de extrair graça da minha desconfortável situação; ver o óbvio a um ângulo de 27° já não o tornava tão diferente, nada que merecesse destaque ou parecesse interessante de ser descrito - não dava pra pintar o óbvio com poesia.

E apenas comprovando o efeito terapêutico desses textos que eu escrevo, encerro-o aqui, por minha vontade de segurar o "backspace" ser maior do que a capacidade de atirar em letras com as pontas dos dedos.