terça-feira, 2 de novembro de 2010

Clorpromazina*

Sempre caminhei muito perto da loucura, e se percebo isso é porque de algum modo estou arraigado de modo tenaz às convenções sociais que delimitam o linear entre o são e o louco. Passei da hora de ter medo disso, e se consigo me perceber caminhando por cima desse muro, é porque de algum modo isso denota o velho auto controle que tenho buscado e que creio fugir de mim às vezes.E o velho auto controle não tem me faltado; Quando passo 3 dias tendo suicídio como um tema recorrente em meio aos meus pensamentos e me pego a relatar isto.

Desejei nascer de novo, só para mudar meu epitáfio. Um desejo que não caminha longe da ideação suicida; parecem até complementares, a priori. Em meio a ideação suicida, ridicularizada já diversas vezes por mim, e esse passageiro desejo de nascer de novo, abri a janela e deixei a cor invadir minha sala cinza.

Quanta cor numa promessa... Passei todo esse tempo recluso nesse cômodo cinza a pensar qual seria o meu remédio, o que resolveria minha situação e me faria superar mais esse quadro de apatia, e confesso ter ficado um tanto decepcionado em perceber que vivo de promessas, aliás, me alimento dos planos que vem por detrás delas.

Andava negligenciado planos, cria que eram somente fontes de frustrações, mas agora ganharam a face de um phárn**; capaz de encerrar a moléstia em si, ou passar a moléstia aos outros. Optei por encerrar a moléstia em mim, me acalentando com todas as perspectivas otimistas capazes de fazer com que eu me burle e evada dessa linha que me mantem próximo da loucura.

Me confortei de tal modo, que nem me julgo a partir dessa opção, simplesmente chuto essa bola para a frente. E me percebo tão bom na arte de me enganar e me domar que não sei se por todo esse tempo estive me fazendo de vítima algoz, pelo prazer desta ultima face, ou se estava querendo me dizer uma mensagem que não sabia como me dizer, mas que sabia ser capaz de entende.



* Antipsicótico sedativo utilizado no tratamento de pacientes esquizofrênicos. São utilizados predominantemente para pacientes psicóticos com inquietação exagerada, dentre outros sintomas. Esse composto causou surpresa quando percebeu-se que atuava como tranquilizante sem causar sedação, isto é, mantinha o paciente acordado, o que sugeriu sua utilização em pacientes psiquiátricos.

** Origem etimológica de Fármaco, que pode significar tanto remédio, como veneno.

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